Saturday, May 14, 2011

"Poço de cocó eminentemente extinto"

Eu gostava de saber porque é que os malucos vêm sempre parar à minha caixa de e-mail.

Mas atenção, é só curiosidade. Eu até gosto. Onde outros vêem chatice, eu vejo diversão.

Desta vez, um homem chamado Duarte Meneses visitou o Indesmentível, odiou e resolveu tentar "salvar-me" de lá. Sim, salvar-me. Na descrição da equipa do site, quem está como equipa do nosso jornalinho fictício são as personagens fictícias. As personagens que criámos para fazer crónicas humorísticas. E nós, os verdadeiros guionistas da coisa, estamos como estagiários. E temos lá o e-mail. resultado: o Duarte viu lá o meu.

"Duarte Meneses to guilherme

Exmo. sr.,
Desculpe estar a enviar este email a um estagiário, mas por ser o primeiro da lista e por não haver mais contactos disponíveis de membros da direcção, peço-lhe que reenvie para os seus superiores.

Tenho lido algumas opiniões, reportagens ou simples notícias do vosso jornal, e surge-me a pergunta: vocês têm apoios, financiamentos ilícitos ou outras fontes duvidosas de rendimentos? Quem lê algumas das opiniões fica severamente irritado, não só pelo conteúdo completamente estapafúrdio que estas apresentam, mas também pela clara e visível falta de qualidade ao nível da escrita. O suposto director dessa pseudo-instituição, o sr. Sebastião Pessoa, está, e se esse for realmente o seu nome, a colocar-se numa posição decadente, representando uma coisa que não traz nada de novo ao país, nem tão pouco à boa disposição de cada um de nós. As piadas fáceis, de mau gosto, mal escritas, sem pingo de sentido, representam não só a aberração que o vosso jornal é, mas a incompetência dos aspirantes a jornalistas e jornalistas que este país tem.  Queria dizer-lhe, Guilherme, que se realmente é estagiário desse poço de cocó eminentemente extinto, deveria sair enquanto é tempo, não só para salvar a sua carreira de jornalista e de colunista, mas para se demarcar de um tipo de humor que não interessa a rigorosamente ninguém.

Também não estou certo acerca do estilo de escrita utilizado por vós. Penso que imitar José Saramago, através da abolição de qualquer tipo de acentuação, é contribuir para que a literatura seja mais chata, mais incompreensível, e presta homenagem a um dos maiores dissidentes deste país, com o qual não gostaria de compactuar. O seu comunisto explícito e pouco comovente leva-me a detestar tudo aquilo que fez em vida, pelo que não vejo com agrado a sua extrapolação para o meio online. Como alguém disse algures num comentário a uma das vossas notícias, a internet dá motivação a qualquer cabeça oca e/ou conjunto de cabeças ocas para colocar à vista de todos os seus rascunhos sem piada e sem vida.

Agradecia uma resposta da vossa parte, não só pelo trabalho que tive a escrever isto, mas porque considero que as críticas merecem resposta.

Cumprimentos"

Eu li tudo bem lido. Ri-me e resolvi responder. À minha maneira.

"Guilherme to Duarte Meneses

Caro Exmo. sr,

Não tem mal que envie este mail a um estagiário. E ainda bem que o fez. O mais certo era que se o enviasse a um dos meus superiores, eles não o lessem. Estão ocupados a meter conversa com as nossas estagiárias Marta e Sónia. São básicos, misógenos e duvido que saibam abrir um email que não diga "mamalhudas chinesas XXX" no Subject.

Numa nota inteiramente pessoal, deixe-me agradecer-lhe tratar-me por "Exmo. sr". apesar de eu ser um mero "estagiário". Nunca me trataram assim aqui no Indesmentível e talvez isso tenha um efeito directo na "decadência" e "falta de qualidade" de que fala no seu email. Gostava que o Sebastião Pessoa, que alguns julgam ser fictício mas eu bem sei que é só um baldas que nunca cá põe os pés, me tratasse assim todos os dias mas "ó psst" e "coisinho" são os meus nomes de baptismo neste jornal.

Neste momento em que lhe respondo olho em volta pela redacção, que alguns defendem não existir mas eu bem sei que é apenas um local mal cuidado e sujo que não merece sequer um código postal, e vejo que tem razão. Eu não devia estar aqui. Tinha dentista hoje às 15h. Doí-me o dente e tudo mas tenho coisas a fazer para depois não receber no final do mês. É uma vergonha. Foi-nos prometido que, apesar de nós estagiários não recebermos, que nos poriam um ar condicionado na redacção. Dois anos depois ainda não foi instalado mas o nosso director, Sebastião Pessoa, costuma orgulhar-se de estar "fresquinho" no seu escritório.

Noto no seu tom de preocupação para com o meu futuro o mesmo medo que vejo nos olhos da minha mãe. Eu já lhe expliquei que "tirar cafés", "fazer ditados" e "ir dizer à Marta que a quero em minha casa hoje às 20h só de lingerie" não é uma labuta para a vida. Mas serve-me por agora. Acredite quando lhe digo que depois de ter saído do secretariado da JSD de Cascais, este emprego é uma maravilha. Nem me importam os "financiamentos ilícitos ou outras formas duvidosas de rendimentos" que há por aqui. Também haviam por lá e eram gastas maioritariamente em camisolas de gola alta e cera para pranchas de surf.

É bom saber que ainda há pessoas como o senhor. Que tomam as coisas exactamente por aquilo que elas são. Tanta gente a defender que o Indesmentível é apenas um burgo humorístico e simplista com pretensões básicas de apenas animar o dia de quem por lá passa mas o senhor percebeu exactamente aquilo que ele poderia ser. Um jornal a sério. Com deveres morais e jornalísticos e tudo. Tenho pena que seja o único.

Em relação a esse Saramago de que fala, não conheço, mas gostava, já que quando pesquisei na net me apareceu um filme com o Gael Garcia Bernal e isso, parecendo que não, é motivo para me levar a ir ao cinema, já que gosto de cinema, sempre gostei, a minha mãe odiava que eu passasse horas em frente à televisão mas aquele Chuck Norries, mais o seu chapéu de cowboy, me deliciavam enquanto criança imberbe que era, e se calhar, ainda sou, não sei, investigarei apenas para saber se esse "Saramago" é um traidor assim tão grande como diz, já que me fez lembrar o João Moutinho, que foi para o FC Porto, o porco.

Obrigado por me defender. Se não se importar, vou recordá-lo sempre como o meu "Jerónimo de Sousa" pessoal.
Será sempre uma espécie de anjo da guarda mas que diz "portanto" a cada 5 palavras.

Obrigado Duarte,
Guilherme Fonseca

PS - Em relação ao que lê sobre o nosso jornal (e no nosso jornal) espero que não dê importância. Ainda lhe cai o cabelo ou acaba com problemas cardíacos. O conteúdo é "estapafúrdio" porque este "poço de cocó eminentemente extinto" tem os dias contados. Só pode. Sebastião Pessoa disse que em jornal seu, toda a gente começaria o dia a beber um farto copo de whiskey. Instituiu imediatamente esse hábito desde o primeiro dia. E agora que penso nisso, é algo que explica também os erros ortográficos, não?"

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