Saturday, February 05, 2011

A vingança é um copo que se serve morno

Uma vingança é suposto saber bem.
Por isso estou um bocado orgulhoso de ter feito isto.
É maquiavélico. É retorcido. Mas é ainda mais divertido.
E soube bem - pelo menos a mim.

Ontem fui sair à noite. Bairro Alto. Entre saltitar de espaço em espaço, foi num bem cheio onde tudo aconteceu. Eu e o Pedro Silva entramos no bar e amigavelmente ele oferece-se para me pagar uma bebida. Pedi Martini Bianco, já que nas 3 horas anteriores tinha estado a beber cerveja. E o que é demais, faz arrotar. A empregada foi uma profissional e serviu aquilo abastadamente. O pedro pediu uma sangria. No segundo em que nos viramos do balcão, cada um com o seu copo na mão, um homem que estava sentado num mesa dá um cotovelada no meu copo. Não entornou. Lavou o chão com o meu martini. Não sobrou nem o limão. Nunca mais vi o copo no meio de dezenas de pés que se mexiam no espaço. Decidi dizer qualquer coisa ao homem sentado.

Eu - Desculpa, viste o que fizeste?
Ele - Eu não vi nada. - sem olhar para mim.
Eu - Entornaste-me o copo todo. Importaste de me pagar um novo?
Ele - Eu não tenho dinheiro nenhum. E não fiz nada.
Eu - Ao menos dá-me um euro, qualquer coisa.
O gajo levanta-se da cadeira e faz-me peito.
Ele - Mas tu sabes quem é que eu sou? Sabes, caralho?
Eu - Hmm. Não.
Ele - (inserir nome de quarentão alcoolizado aqui). Tu como é que te chamas?
Eu - Pedro Pereira. - disse eu merecendo um Óscar pela minha performance.
Ele - Pedro, eu não te vou pagar nada. Desanda.
Eu - Vá lá, não sejas assim. Entornaste-me o copo.
Ele - Eu não entornei nada, caralho.

Eu virei costas e não continuei a conversa. Fui ao balcão, pedi outro martini e fui para a rua bebê-lo.
A esta hora, o Pedro diz para eu esquecer a cena. Eu estava irritado. Relembro que tinha estado a beber cerveja nas últimas 3 horas. Apetecia-me entrar no bar e entornar-lhe o copo no chão, lentamente. A olhá-lo nos olhos. Expressei a minha vontade em voz alta. As pessoas que estavam comigo disseram que seria estúpido. A verdade é que o homem podia ao menos ter pedido desculpa. Ele percebeu o que fez. Ele sentiu de certeza o que fez. Aquele braço não era uma prótese. E ele não estava assim tão bêbado. Estava só parvo.

Nesta altura o Pedro diz que "o que tu podias fazer, era dar-lhe uma bebida. Mas alterada." Eu ilumino-me como uma árvore de Natal. Era o que eu ia fazer. Esboçamos o plano, respirei fundo e lá fui eu para dentro do bar outra vez.

Dirigi-me ao balcão, pedi um whisky. Três euros e meio. A vingança mais cara da minha vida. Mas ia valer a pena. Acho que se me tivesse cobrado 10 euros pelo whisky, eu tinha pago na hora. Peguei no copo servido, agradeci, e dirigi-me à fila da casa-de-banho. Esperei a minha vez e entrei. Ora nem mais. Se o copo estava servido a 40%, ficou a 60%. Mijei para dentro do copo, nunca deixando que a bebida mudasse demasiado de cor e saí da casa-de-banho. O plano estava em marcha. Eu estava a ficar nervoso.

O gelo tinha derretido. Eu sentia o copo mais quente. Obviamente. E não tinha uma bebida para mim. Encostei-me ao balcão e pedi um novo martini para mim. Igualzinho ao que o gajo me tinha entornado. Enquanto me estavam a pôr pedras de gelo no meu, pedi para porem uma no whiky. Perfeito. Dirigi-me até à mesa do gajo.

Aproximei-me e disse:
Eu - Man, desculpa aquilo à bocado. Não quero sair daqui chateado.
Ele levanta-se novamente, desta vez com o peito para dentro - Na boa, pá. Estamos bem.
Eu - Trouxe-te um whiskey. Estamos na boa?
Ele sorriu pela primeira vez ao ver o whisky - Claro que estamos, Pedro.

Eu já me tinha esquecido que lhe tinha dito que me chamava Pedro. A esta hora estava com medo que o gajo, ao agarrar no copo, percebesse que aquilo estava morninho demais. Estendo-lhe o copo. Ele agarra-o e...

Ele - Um brinde ao Pedro.
Eu - Um brinde à amizade.

... bebemos os dois ao mesmo tempo. O gajo estava bêbado demais para perceber que o copo dele estava com o dobro da temperatura que devia. E mesmo depois de engolir quase metade do copo de uma vez, sorriu para mim. Eu sorri de volta. Fui fazendo conversa com ele durante alguns minutos. Sempre que ele me dizia qualquer coisa sobre a sua vida, eu propunha um brinde.

Eu - És guia turístico? Aos guias turísticos, caraças!

Estendia o copo. Ele brindava. Bebíamos. Minutos depois só lhe falta um golo do whisky. E do aditivo.
Eu digo que tenho de ir ter com os meus amigos. Ele responde:

Ele - Pedro, já não se fazem putos como tu.
Eu - Podes querer.

Ele bebe o copo dele até ao fim. Eu aperto-lhe a mão. Saio do bar.
Fui cínico. Fui falso. Fui maquiavélico. Mas deu-me um prazer que vocês não imaginam.
Ele não percebeu, não morreu e não se chateou.
Eu sei o que se passou, fui elogiado e saí do bar a sorrir.

Só o meu primeiro Martini continuo espalhado pelo chão.

2 comments:

n said...

pediste martini bianco, estavas a pedi las!

Gui said...

Engraçado. Fui ler o rótulo de uma garrafa de Martini Bianco e diz lá isso:
"Esta bebida, quando entornada por um estafermo alcoolizado, não deverá ser vingada. Você é extremamente homossexual e se não o é, tem fortes e rabetas tendências a sê-lo. Por favor beba cerveja que isso de ter personalidade é para as personagens do jogo SIMS. Bom proveito."