Monday, February 14, 2011

7 dias #11: rescaldo

Escrevi.
Re-escrevi.
Apaguei.
Recomecei.

E deixem-me dizer-vos que adoro escrever. Tenho a plena noção de que não sou uma força literária. Que não sou um génio da escrita. Que nunca serei um Saramago ou uma Carolina Salgado. É verdade que durante anos dei erros ortográficos e durante anos isso me irritou. Por displicência ou por distracção ia-os repetindo. Mas nunca fui de letras. Sou um rapaz que desenhava bem. Que foi para artes. Que se apaixonou por cinema. E que acabou a tirar uma licenciatura... em escrita de guiões. Nunca fui de letras mas acabei por ser de letras. Não deu para fugir.

Mas não é por não usar palavras caras que não sei o que digo. Não é por usar palavras dignas de pontuações máximas no Scrabble que não sei o que quero transmitir. Mais importante do que um quadro bonito e enfadonho é um quadro feio que diga alguma coisa. Sempre apostei numa escrita corrida, quase-verbal. Sinto-me à vontade a escrever como falo. Ergo, como penso. Anos de stand-up levaram-me a apaixonar-me pelo discurso mais do que pela prosa. Que se lixem os poetas. Eu gosto é de oradores.

O livro vai de vento em poupa. Ou melhor, voltou a estar de vento em poupa. Adiantei-o, melhorei-o e neste momento, quero ter uma primeira versão o mais depressa possível. Ainda me falta cerca de 35% de material original. 35% de páginas por preencher. 35% de piadas por fazer. Assim que o acabar, quero relê-lo, reorganizá-lo e dar uma segunda demão. Depois disso já tenho a quem o apresentar.

Depois disso junto-me aos milhares de portugueses que já escreveram um livro. Não é impressionante que toda a gente tenha o sonho de escrever um livro mas que muito pouca gente leia? É como ter uma nação de pessoas que sonham ser cantoras mas que são insistentemente surdas. Eu gosto de ler. Muito. É verdade que sou uma pessoa visual, um apaixonado pelo cinema e pela televisão, mas quem acha que ler é "castrativo", "aborrecido" e "simplista" só pode ter muito pouca ginástica mental. A criatividade é a melhor coisa que podemos ter. E mais do que um polegar oponível, aquilo que nos faz mandar no planeta. Mas já chega. É um esforço ironicamente inglório defender a literatura num blog.

O meu maior medo é perdê-la. À criatividade, pois claro. Tenho medo de deixar de conseguir inventar, porque gosto e porque me dá dinheiro. Porque sou bom nisso. Porque me permitiu começar a escrever um livro que espero ser um sucesso um dia. Livro esse que tenho medo que alguém tenha a mesma ideia. Livro esse que tenho medo de não o acabar. Medo que fique para sempre esquecido. É que à velocidade a que aparecem escritores neste país, maior parte dos meus receios já se devem ter tornado realidade entre eu começar este texto e chegar a este ponto final.

Estou a caminho.
A minha primeira obra literária - humorística de bandana - está a caminho.
Agora, é parar de escrever aqui.
E escrever lá.
Até já.

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